xitizap # 32

a HCB e a Lei

Cahora Bassa - montante

Cahora Bassa - jusante

Zambeze - outras cheias

o Dia dos Generais

Hidrodinâmicas no Zambeze

soltas

 

 

Quantas vidas vale um gigawatt-hora ?

 

 

Durante o debate parlamentar sobre as cheias no Zambeze, o representante da maioria governamental, general Hama Thai, “negou que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) tivesse posto em perigo o baixo Zambeze em resultado de uma descuidada tentativa em maximizar a sua produção eléctrica”. Ainda segundo o general, a HCB havia definido para 2007 uma meta de produção de 16,500 Gigawatt-hora (GWh) - um objectivo do qual a HCB estava praticamente segura, segundo argumentou (AIM, March 31).

 

Mas, 16 500 GWh, à custa de quantas desgraças ? - pergunto eu.

 

Embora nem eu nem o general sejamos especialistas em hidrologia, para ambos está contudo disponível um estudo encomendado pela actual administração HCB (publicado em 2003) que, a propósito da eventual construção da Fase Norte da Central de Cahora Bassa, apresenta uma revisão dos estudos hidrológicos da Bacia do Zambeze alargados ao período 1931-2001.

 

Com base em modernos métodos de geração estocástica, os autores do referido estudo analisaram as quatro áreas de captação parcial que influenciam Cahora Bassa (Kariba, Kafue, Lwangua e a área que drena directamente para a albufeira de Cahora Bassa) após o que, por aplicação do software HEC-5 (US Corps of Engineers), simularam vários cenários de produção hidroeléctrica.

 

A figura 2 do referido estudo – Energia anual total (1931-2050) – sintetiza o resultado de tais simulações para três parâmetros distintos: (1) situação actual (5 x 415 MW); (2) o ganho hidroeléctrico a obter após instalação de capacidades adicionais de descarga de 4,400 m3/s e (3) a energia extra da Central Norte (3 x 415 MW).

 

Como é transparente, estas modernas simulações, recentemente encomendadas pela própria HCB, demonstram à evidência que, em nenhuma circunstância, deveria a HCB ultrapassar a fasquia dos 15,000 GWh/ano antes que se adicionem novas capacidades de descarga na ordem de 4,400 m3/s.

 

Caso assim não seja, e mesmo que ainda não se disponha dos dados insistentemente solicitados à HCB, é perfeitamente legítimo deduzir, e com elevado grau de razoabilidade, que, nas condições actuais de capacidades de descarga, uma meta de 16,500 GWh representa, inequivocamente, uma perigosa e negligente ultrapassagem das margens mínimas de segurança do empreendimento Cahora Bassa.

 

josé lopes

 

abril 2007

 

Leia extractos do referido estudo encomendado pela HCB