Especulação em Agosto
por norma, dirijo-me ao meu observatório sempre que a EDM (Electricidade de Moçambique) me interrompe o serviço eléctrico - à noite, aponto o telescópio a um qualquer objecto Messier, de dia espreito o Sol em busca de manchas solares (sunspots).
Por sorte, ao longo da primeira semana de Agosto a minha colecção de fotografias de sunspots solares tornou-se vasta ... E proporcional ao número de cortes EDM.
E foram duas as famílias de sunspots cuja agitação me inquietou.
Será que andava tempestade magnética no ar ? Sabia que estávamos em maré alta do ciclo solar (1998-2009) e, numa fase de upload do xitizap # 6, o que menos me convinha era uma internet ainda mais lenta que o costume – sobretudo num momento em que era necessário redobrar atenções sobre o que andava a Mozal e o MICOA fazendo em Mavoco.
Decidi por isso dar um giro pelos observatórios à procura de alertas de tempestades solares, e rapidamente confirmei que, a 6 de Agosto, a actividade magnética do Sol havia entrado em anormal excitação.
Era pelo menos o que revelavam as informações da nave ACE (Advanced Composition Explorer) que, a 1.5 milhões de km da Terra, está lá exactamente para isso – medir o fluxo de iões e electrões emanados pelo Sol aquando das suas alterações magnéticas. Uma excitação que era igualmente corroborada pelas medições do SOHO (Solar and Heliospheric Observatory) – uma nave que orbita o Sol desde 1995 e que, entre outras coisas, mede as ondas de choque interplanetárias causadas pelas ejecções de massa coronal (EMC) oriundas do Sol.
E, como não há duas sem três, o novo satélite IMAGE (Imager for Magnetopause-to-Aurora Global Exploration) também indicava a presença de fluxos das partículas usualmente características de tempestades magnéticas.
Muito embora ainda escasseassem dados sobre a velocidade destes ventos solares de Agosto 2003, era pelo menos possível definir uma janela de ocorrência: à espantosa velocidade de 300 a 1200 km/s, estas partículas electricamente carregadas varreriam a Terra dentro de 3 a 9 dias!
Da carga de fotões é que eu já não me livrava porque, à velocidade da luz, os fotões ejectados pelo Sol levam cerca de 8 minutos a atingir a Terra. Mas, segundo contam, daí não vem mal à cabeça. Por isso, bati mais umas chapas de uma família de sunspots e, cautelosamente, recolhi-me logo que a EDM restabeleceu o serviço eléctrico.
Aproveitei então para rever as fotos dos recentes eclipses do Sol (Changara 2001, Massingir 2002), e reflectir sobre as ejecções de massa coronal (EMC) que só nessa altura se tornam visíveis para os terráqueos.
Entretanto, recorde-se que os principais distúrbios solares são de dois tipos: um, diz respeito à chamada chama de Sol (flare), que é uma descarga de radiação breve, mas intensa e que ocorre à superfície do Sol, normalmente junto aos sunspots. O outro tipo de distúrbio – a ejecção de massa coronal (EMC) – é uma erupção na camada mais exterior do Sol que vomita biliões de toneladas de material para o espaço interplanetário a velocidades que podem atingir 2 000 km/s.
Curiosamente, embora os físicos teorizem que os sunspots, as flares e as EMCs resultam de alterações do campo magnético do Sol, ninguém ainda percebeu porque é que estas perturbações ocorrem em ciclos de 11 anos.
Note-se que, no passado, os cientistas consideravam que seriam os flares os causadores das tempestades magnéticas mas, actualmente, tende-se a aceitar que elas derivam antes das ejecções de massa coronal que, em violento contacto com a magnetosfera, torcem e retorcem as linhas do campo magnético da Terra causando dramáticas perturbações em tudo o que é equipamento eléctrico.
Quando acabei de rever as fotos dos eclipses solares de Changara 2001 e Massingir 2002, pelo sim pelo não fui ao arquivo e coloquei na mesa o ficheiro Quebec (Março de 1989).
Uma semana depois, a CNN anunciava um blackout nos USA e Canadá.
e de imediato pensei: BINGO ! alto pretexto para uma especulação xitizap
josé lopes
Maputo, setembro 10, 2003
em colaboração com Zeca Bamboo (editor Astro Stuff / xitizap) |
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