xitizap # 27

Gás em Maputo

uma proposta indecente

se temos tanto ...

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xitizap # 27

 

Inverno 2006

 

 

Direito ao Aborto

 

 

Sou, inequivocamente, a favor do direito ao aborto.

 

Em particular quando, logo no início da gestação, se visualizam fatais deformações nos fetos.

 

Daí que, no caso do proposto sistema eléctrico HVAC 400 kV entre Mphanda Nkua e Maputo, me pareça oportuno continuar a mediatizar ecografias onde já são patentes algumas das perigosas insuficiências e deformações orgânicas deste feto.

 

Tudo indica que as deformações são congénitas e, segundo opinião de reputados especialistas, é na mamã Mpanda Nkua que devem ser procurados os determinantes genéticos desta mal-formação. No mínimo porque nem se conhece ainda muito bem a estrutura cromossomática do pai – no início constava que seria um franco-visigodo, vagamente céltico; ultimamente, fala-se num financeiramente musculado chinês.

 

Seja como for, e mistérios de paternidade à parte, o Zambeze tem sido a cama de algumas das quecas hidroeléctricas mais dispendiosas da história recente e, certamente não por acaso, há por ali uma notória tendência para se parir prematuros– exibindo aberrantes deformações financeiras, e ambientais.

 

Dada a frescura dos lençóis de água, e os biliões gastos em cenografias no Zambeze, este persistente mal-parir não pode ser justificado por falta de ambiente. E há especialistas sugerindo que, muito provavelmente, será na qualidade das quecas que reside a causa da coisa - ou, mais propriamente, na coisa da causa.

 

Para prevenir fastios técnicos, e por pudor também, evito falar da mãe-de-todas-as-deformações:

 

Mphanda Nkuwa.

 

Aliás, ela por aí anda, de clínica em clínica, à vista de quem a quiser. Diz-se que à venda, ou para troca por carvão … não sei. Sei apenas que, a julgar pelos lancinantes gemidos da mãe Mpanda Nkua, no Zambeze a dor deve ser imensa.

 

E a música de fundo também não ajuda muito já que o operador da juke box insiste em bizarros mixings: ópera chinesa, samba Doce no Vale do Rio, e muitos Santos acordes coimbrões, imagine-se.

 

Por isso mesmo, e por agora, opto antes por me concentrar na ecografia de um dos dois fetos em má-formação. Não no que parece feito de cimento, tipo barragem, mas tão só no que emite exóticas radiações electro-magnéticas a 400 kV.

 

Ecografo portanto um proposto sistema de transmissão eléctrica HVAC 400 kV entre Mepanda Uncua – Maputo – Eskom, através do qual alguém pretende transmitir 1300 MW, ao longo de mais de 1600 km, via duas linhas HVAC 400 kV (um circuito por linha).

Uma pechincha de mais de um Bilião de US dólares.

 

 

 

 

 

Ajustado o scanner à enorme diferença das potências de curto-circuito Eskom e (futura) EDM 400 kV, na ecografia de imediato faíscam as óbvias dificuldades de sincronismo entre sistemas e, numa chinfrineira infernal, acendem-se alarmes contra flutuações de tensão, bizarros fluxos reactivos e perigosas instabilidades.

 

Felizmente, hoje o software destes modernos e-cografos é tão potente que, nos casos mais agudos, chega a sugerir diagnósticos - como brindes de marketing.

 

E no caso desta esticadíssima transmissão 400 kV EDM-UTIP, além da ecografia o scanner cospe então um papelote onde se lê:

 

esta concepção de rede de transporte nacional denota um agudo síndrome da marginal costeira, e configura a falta de arrojo e valia técnica frequentemente presente quando se julga que a linha recta é a única via para se ligar países, e espaços.

 

Conforme me explicaram uns enfermeiros que assistiam à ecografia, esta críptica mensagem significa, pura e simplesmente, que o proposto sistema HVAC 400 kV nunca funcionará em condições - por muitos biliões de dólares que nele se gastem.

 

Por sorte, eu havia convidado um reputado especialista do projecto Tiang-Guang para assistir, via teleconferência, à ecografia deste feto.

 

Estupefacto, ele disse-me apenas:

 

aborta, aborta já,

que isso nem com FACTS ( Flexible AC Transmission Systems) lá vai.

 

Eu depois falo com os meus colegas chineses.

 

 

josé lopes

 

ainda dependurado numa torre HVAC

 

 

ps – os sistemas HVDC (High Voltage Direct Current) associados a Multi Terminais em Corrente Contínua (MTDC), já em operação em muitas áreas (Canadá, Europa, por exemplo), e actualmente em processo de instalação em muitas outras (China, Rússia, Inter-Europa, etc), constituem a solução técnico-económica mais viável para a transmissão de grandes blocos de energia a grande distância. Em particular quando se pretende alimentar cargas intermédias AC, e ligar redes inter-regionais que, pela sua enorme diferença de capacidades (Eskom e EDM), facilmente se tornam assíncronas.

 

 

Daí que, quando observo o sistema HVDC +/- 533 kV entre Cahora Bassa e a Eskom, e sua possível expansão futura, eu continuo sem perceber porque não se equacionou um terminal DC, junto a Chicualacuala, com saídas HVAC para Moçambique e Zimbabwe.

 

 

Diagrama retirado de Role of HVDC and FACTS in future Power Systems

 

por W. Breuer, D. Povh, D. Retzmann, E. Teltsch e X. Lei

 

Conferência CEPSI 2004, SHANGHAI

Text Box: e para que no Zambeze
se configurem todas as matrizes,

favor acrescentar isto …

 

Carvão – Moatize, Tete, Moçambique

 

agosto 17, 2006

 

CVRD (Cia. Vale do Rio Doce)

avança com investimento de USD 2 biliões

 

embora a CVRD ainda não tenha divulgado os resultados dos seus estudos de viabilidade em Moatize, a Bloomberg hoje cita fontes moçambicanas e sul-africanas confirmando que a empresa brasileira começou já a estabelecer os primeiros contratos para o desenvolvimento do projecto.

 

Em Moatize, a CVRD visa produzir “carvão metalúrgico, utilizado em aciarias, e carvão térmico, utilizável em centrais eléctricas. Algum deste carvão térmico será utilizado numa central (CVRD) associada ao projecto.”

 

A empresa brasileira poderá investir à volta de USD 2 biliões na escavação da mina, melhoria dos caminhos-de-ferro e portos (Nacala) e construção da central eléctrica.

 

A CVRD prevê começar a produção de carvão em 2007, e atingir exportações anuais na ordem de 9 milhões de toneladas.

 

 

 

Carvão – Moatize, Tete, Moçambique – (III)

 

 

Setembro 14, 2006

 

 

a CVRD anunciou hoje que só em Dezembro 2006 se pronunciará quanto a investimentos na bacia carbonífera de Moatize.