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fonte: Engineering News |
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uma nova Eskom
Em meados de 2002 a Eskom apanhou um grande susto.
E por pouco, por muito pouco mesmo, ia-se confrontando com o seu segundo grande erro de planeamento estratégico quando, por largo defeito, errou na previsão da demanda eléctrica sul-africana; ao contrário do que havia acontecido na década de 1980’s quando pecou por exorbitante excesso. Uma subavaliação de demanda que, em termos de custos directos de 2003, poderia significar qualquer coisa como 20,666 Rand por MWh não servido.
Afortunadamente, uma nova gestão Eskom soube rever os sistemas de planeamento e decisão e, a tempo, soube partir para uma profunda revisão estratégica do seu plano de negócios – incluindo o refinamento de alguns critérios fundamentais a nível de Margem de Reserva de Geração, de eficiência energética (demand-side management), de mitigação de emissões de CO2 equivalente, e de ponderação na análise de riscos.
O produto final desta revisão Eskom é uma peça que merece ser analisada. Não só porque se trata de um interessante case-study sobre planeamento eléctrico, mas também porque, no caso de Moçambique, ela contem interessantes pistas quanto à projectada interacção entre os sistemas eléctricos dos dois países – e ao modo como Moçambique poderá negociar o seu futuro como produtor de electricidade.
Em termos práticos, esta revisão estratégica levou a Eskom a decidir-se por um plano de investimentos de R 93 biliões (aprox USD 15 biliões) no período 2005-2010.
E ontem mesmo (Junho 17, 2005) a Eskom lançou um empréstimo obrigacionista de 57 biliões de rands.
Entre outros objectivos, a Eskom visa acelerar o projecto Simunye, de modo a aceder ao rápido regresso ao serviço das centrais de Camden, Grootvlei e Komati a partir de 2005.
No quadro do mesmo plano, a Eskom decidiu igualmente avançar na construção de uma central de ponta tipo OCGT (Open Cycle Gas Turbine de 1050 MW) que deverá entrar em serviço em 2007, para além de iniciativas que vão da melhoria na eficiência energética (1,967 MW de peak-shaving em 2005) ao lançamento centrais de armazenamento hídrico por bombagem.
O plano prevê igualmente a preparação do lançamento de novas centrais a carvão com recurso a tecnologias FBC (Fluidised Bed Combustion, greenfield) e FGD (Flue Gas desulphurization, brownfield), bem como a centrais a gás (CCGT e CCGT)sussceptíveis de serem alimentadas ou por via de terminais LNG (um na costa oeste provavelmente em Walvis Bay, e outro na costa leste provavelmente em Coega), ou por sistemas de pipeline abastecidos por gás de Pande/Temane (Moçambique) e/ou Kudu.
Em paralelo, o governo sul-africano lançou já o concurso para a construção de centrais tipo OCGT (total 1050 MW a serem commissionadas em 2009) numa iniciativa que permitirá testar a receptividade do mercado IPP (Independent Power Producers). No entretanto, os famosos PBMRs (Pebble Bed Modular Reactors) são remetidos para as calendas da pesquisa e demonstração.
Por outro lado, e muito para além das tecnicalidades deste case-study, importa reter outros aspectos da nova visão Eskom.
Nomeadamente os que nos são facultados por Thulane Gcabashe (Chief Executive da Eskom desde Novembro 2000) numa extensa entrevista recentemente concedida à Engineering News.
Na qual ele não hesita em reconhecer os erros de um recente passado. Sobretudo quando formula os três novos vectores de mudança na estratégia Eskom quanto a: (1) re-estruturação do mercado eléctrico, (2) integração dinâmica do binário oferta/demanda e (3) sinergias e excelência operacional. Todos eles assentes na aposta num novo triângulo de eficiências – operações, investimento e procurement.
E no que parece constituir uma inflexão de uma certa megalomania expansionista da Eskom, o CEO da Eskom refere a imperiosa necessidade de a empresa se re-centrar no seu core-business - o que passa por privilegiar o mercado interno sul-africano.
Igualmente interessante é o facto de Thulane Gcabashe considerar que, para a Eskom, uma das primeiras prioridades será a aposta na formação e treinamento dos seus recursos humanos com vista ao relançamento de capacidades próprias no domínio do design e construção de infrastruturas, e na Operação e Manutenção de sistemas – áreas em que, aparentemente, a opção pelo outsourcing não terá surtido os efeitos desejados. Muito pelo contrário, na Eskom, tal como certamente na EDM (Electricidade de Moçambique), a panaceia outsourcing parece apenas ter contribuído para maiores custos, menor qualidade e sobretudo uma penosa drenagem de escassos recursos humanos.
Nesta mesma entrevista, Thulane Gcabashe dá-nos igualmente conta da re-organização em curso na Eskom, da sua opinião quanto a sistemas tarifários multi-anuais e da sua firme intenção em continuar a apostar na África do Sul como um destino atractivo para as indústrias de energia-intensiva - num quadro em que devida consideração deva ser dada aos aspectos de sustentabilidade ambiental.
E embora ele reitere que a Eskom pretende continuar na liderança mundial em termos do mais baixo preço eléctrico, o CEO da Eskom não deixa de alertar que as novas capacidades de geração não custarão menos de 20 cêntimos de Rand por kWh – quem avisa teu amigo é.
josé lopes
Junho 2005
ps – as várias versões do NIRP (National Integrated Resources Plan) podem ser consultadas no site da autoridade de regulação eléctrica da África do Sul www.ner.org.za
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