xitizap # 19

Megawatts HCB

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Megawatts HCB

 

hipótese em Junho 2005

 

 

Cahora-Bassa, Junho 2005

 

em termos imediatos, e caso corram bem as negociações HCB, um dos seus resultados mais práticos será a possibilidade de se melhorar a eficiência do mercado eléctrico – e ambiental. Com relativa rapidez.

 

Isto porque, quando Moçambique adquire uma acrescida responsabilidade accionista na HCB (Hidroeléctrica de Cahora-Bassa), não só o país finalmente clarifica o controle estratégico sobre um colossal património, como também ele passa a poder influenciar mais decisivamente a alocação dos Megawatts HCB – e certamente mais em linha com os interesses nacionais.

 

Em particular porque, em resultado dos novos acordos de Junho 2005, Moçambique passa a dispor de mais competências para, com discretas pinceladas, refinar o timing e escala de alguns contratos de fornecimento – para além do preço a praticar internamente.

 

E, por si só, isto poderá permitir adicionar uma substancial eficiência ao mercado – através de uma melhor sintonização da demanda/oferta, e de maior sincronismo entre parceiros regionais.

 

 

eu explico-me:

 

 

comece-se por exemplo com o plano Eskom/NIRP para o período 2005/2022.

 

Um plano que em nenhuma das suas versões públicas admite novas importações de electricidade a partir de Moçambique, para além dos 1300 MW que a Eskom actualmente adquire à HCB.

 

Incidentalmente, nesses planos, a única referencia nova a Moçambique é uma intrigante comparação do hipotético preço Mphanda-Nkwua (52 cêntimos de ZAR/kWh colocados em Maputo) versus os 20 cZAR/kWh a que, em média, chegarão os novos electrões Eskom.

 

Em meu entender, isto representa uma clara indicação de que, a menos que o mercado passe a oferecer almoços grátis, durante os próximos 15 anos a Eskom não equaciona o recurso a Mphanda-Nkwua (1,300 MW). Nem a Cahora-Bassa Norte (fase II, 800 – 1,200 MW) ou mesmo qualquer outra fonte externa.

 

Na verdade, todos os dados tornados públicos sugerem antes que a Eskom aposta fortemente na construção de uma confortável Margem de Reserva de Geração Interna, na ordem dos 15 a 20% - e a custos médios dificilmente batíveis.

 

Felizmente, há uma interessante curiosidade nestes planos Eskom/NIRP.

 

E ela reside no facto de, na sua análise de riscos inerentes à importação da HCB (1,281 MW @ Apolo) no horizonte 2005/22, a Eskom ter ponderado uma diminuição de 250 MW a curto prazo, e de 500 MW a médio-longo prazo. Invocando possibilidades de secas no Zambeze e/ou imperiosas necessidades de demanda do mercado regional, a Eskom ajustou o seu plano a tais eventualidades.

 

E ainda bem.

Porque isso talvez permita abrir uma janela de oportunidade para Moçambique negociar discretos blocos de energia. A favor de projectos de desenvolvimento interno, como Corridor Sands por exemplo; um projecto que na projecção de demanda da Eskom é remetido para o longo prazo.

 

E esta é também uma oportunidade de consolidar os mercados naturais de exportação – como o Malawi e o Zimbabwe; embora neste caso haja que tomar em conta as iniciativas recentemente anunciadas pela ZESA para Hwange e Kariba-Sul – e mesmo Batoka.

 

Contudo, muito embora todas estas impressões paisagísticas (ver figura) possam sugerir que no horizonte Moçambique 2005/2015 o binário demanda/oferta se poderá resolver no exclusivo quadro da actual capacidade HCB (1,600 MW firmes, 2075 MW instalados), importa notar que elas não esgotam um outro conjunto de factores igualmente crucial.

 

Refiro-me à vulnerabilidade, em termos de segurança e fiabilidade, de um vastíssimo país dependente de uma única e micro-localizada fonte energética – a Hidroeléctrica de Cahora-Bassa.

 

E é aqui que pode entrar o gás natural.

 

Um valioso recurso que felizmente abunda em Pande/Temane - e no seu off-shore segundo se prevê.

Um imenso armazém de energia – relativamente limpa por sinal – onde caberia uma central eléctrica a gás (a questão OCGT ou CCGT fica para o futuro das escalas).

 

Com 240 a 360 MW instalados à boca dos poços - e em regime IPP (Independent Power Producer) – esta central permitiria colmatar o actual deficit de segurança do sistema, para além de servir outras importantes funções. Pelo caminho, a central talvez tornasse ainda mais atractivo a instalação do pólo petroquímico actualmente em estudo pela Sasol.

 

E no capítulo de outras importantes funções para essa central a gás destacaria: (1) melhorar a fiabilidade do abastecimento ao projecto Corridor Sands e a toda a zona Sul de Moçambique, (2) alavancar o eixo de transmissão 400 kV Maputo-Temane via Chibuto, (3) concorrer no mercado regional de ponta e semi-ponta.

 

Tudo isto se poderia concretizar sem irrealistas encargos para o Estado, porque em regime IPP, e numa zona onde certamente não escassearão competências para gerir tal central. E num cenário de custos super-competitivos; em particular se nos lembrarmos que a Mozal diz receber esse mesmo gás em Maputo a menos de 1 USD/GJ – ou seja um terço do valor estimado pela Eskom para as suas próprias centrais a gás natural.

 

E sempre que me ocorre que o mais promissor cenário passa pela combinação HCB (as-it-is) mais uma Central Gás (a entrar em serviço em 2008-2009 na zona Pande/Temane), cada vez mais me convenço que, durante os próximos 5/6 anos, quaisquer debates Mphanda-Nkwua versus Cahora-Bassa Norte versus sei lá o quê, enfermarão sempre de grave extemporaneidade – pelo menos segundo eu leio as projecções de mercado.

 

Debates extemporâneos … e deficientes – como por exemplo na omissão do custo do dinheiro e no enevoar de prioridades dos investimentos públicos. Deficientes também porque, hoje por hoje, esses debates não abordam sequer a questão da geo-segurança e outras importantes necessidades do sistema eléctrico.

 

E, se porventura finalmente se admitir que não vale meter a carroça das centrais tão à frente do mercado dos bois, eu permitir-me-ia sugerir um outro corolário de eficiência energética: focar os escassíssimos recursos humanos na extensão do acesso à energia – com mais qualidade.

 

 

 

josé lopes

 

junho 2005

brindando aos 30 anos de independência

 

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