xitizap # 43

xitizap # 43

evacuação eléctrica

ficção unifilar @ MOZ

astro stuff

soltas

 

LUA (fev 2009)

 

elektro-crónicas de Moçambique

HVDC ± 600 kV (bipolar) - 4000 MW, 1240 km

Text Box: HVAC 765 kV - 4000 MW, 2 circuitos, 1500 km

 

da Evacuação ficcional

 

Ainda estava fresca a terra onde se havia enterrado um aborto electrotécnico (transmissão EDM/UTIP 400 kV AC, Tete – Maputo) quando as autoridades ME & EDM * me surpreenderam com um novo lance de prestidigitação conceptual:

 

operacionalizar, no período 2012/15, uma fiesta de 15 biliões de dólares USD compreendendo:

 

(i) quatro novas mega-centrais totalizando 7150 MW (duas a carvão + duas hidroeléctricas) concentradas numa curta faixa de Tete

 

mais

 

(ii) novíssimos sistemas de evacuação eléctrica (8000 MW) de Tete para o Sul de Moçambique (e África do Sul).

 

Vai daí que, com o sempre ubíquo Banco Mundial, em curto espaço de tempo as autoridades seleccionaram consultores que, em tácita corroboração de tais ficções, rapidamente lhes dimensionaram um luxuoso evacuador híbrido DC/AC (2x4000 MW) – uma coisa orçada em USD 4.4 biliões, incluindo toda a sorte de arabescos ao longo da marginal.

 

Mas, e porque continuo a pensar que continuamos no domínio da electroficção de cordel, não me interessa aprofundar, aqui e agora, os méritos ou deméritos técnicos da solução ora propagandeada; basta-me alertar eventuais incautos quanto aos enormes riscos de desactualização técnica que, tipicamente, envolvem qualquer mega-pacote de extemporaneidade infra-estrutural. Como infelizmente é o caso!

 

Por agora, o que verdadeiramente me importa é confessar o meu espanto com a desfaçatez com que o planeamento electro-oficial continua a passar ao lado da realidade – desde o crash que já a todos sufocava quando eles insistiam em entreter-se com milionários desktop studies, até à conspícua relutância Eskom em desacelerar margens de reserva, para não falar da miragem de electro-âncoras tipo Mozal 3 em Maputo e Areias Pesadas no Chibuto, p.e.

 

Curiosamente, tudo indica que a electro-oficialidade e seus consultores (pages 16/17) terão concluído que a crise não

passará por aqui, e que toda esta ficção é económica e temporalmente plausível – é pelo menos o que nos sugere o facto de, a 1 de Dezembro 2008, as autoridades, confortavelmente escoradas na suposta inocuidade dum project-finance, terem passado à fase de viabilidade e marketing das suas ficções.

 

Mas a coisa não é tão inócua assim.

 

Desde logo porque o abastardamento da boa ferramenta que um project-finance pode ser, acaba sempre por implicar uma fatal erosão de credibilidades … e a proliferação de exuberâncias bacocas.

 

Cá por mim, eu continuo mesmo é a acreditar na estória do lobo: de tanto se chorar por mega-centrais e bilionários evacuadores, qualquer dia, quando for mesmo necessário, ninguém acredita neles.

 

 

josé lopes

 

fevereiro, 2009

 

ps – ultimamente, começa a ser frequente ouvir-se a oficialidade a tentar relacionar estas electro-ficções com a bem necessária Electrificação Rural; quem olhar para a geografia do país rural e a comparar com os corredores de transmissão ora propagandeados, facilmente concluirá que pouco ou nada os relaciona.

 

* ME = Ministério da Energia (Moz); EDM = Electricidade de Moçambique

este número gás natural,

é mais uma de várias mega-exuberâncias oficiais