Pareceres e Opiniões Técnicas

 

Hidrodinâmicas do Rio Zambeze

 

Pontas de Cheia em Fevereiro 2007

 

Notícias e Reacções não-Técnicas

Text Box: fonte: Hidroeléctrica de Cahora Bassa










so far … nickles

 

 

 

 

 

ainda em trabalhos

AIM NEWS CAST, SATURDAY 10/3/2007

 

CAHORA BASSA "AVOIDED THE WORST"

 

Maputo, 10 Mar (AIM) - Far from causing or exacerbating the February flooding in the Zambezi Valley, the Cahora Bassa dam helped "avoid the worst", according to Mozambican Energy Minister Salvador Namburete. Speaking to reporters on Friday, after a visit to Tete province, Namburete said the discharges from the Cahora Bassa floodgates had  been made in a "gradual and responsible" fashion, and so the dam operating company, HCB, should not be blamed for the floods. Namburete was reacting to claims made by opposition deputies in the Mozambican parliament, the Assembly of the Republic, that HCB "negligence" contributed to the floods. The deputies concerned based themselves exclusively on an opinion article published last Monday by a former national director of energy, Jose Lopes.

Essentially, Lopes argued that HCB should have prepared for possible flooding by reducing the level of the Cahora Bassa lake much earlier. Had it increased the discharges at a time when there was no risk of this causing the Zambezi to burst its banks, then the lake would have been able to hold much more water, and there would have been no need to increase discharges to 8,400 cubic metres a second in mid-February.

Namburete does not accept this analysis. He argues that, if Cahora Bassa did not exist, then the effects of this year's floods would have been much more devastating.

……….

Namburete was careful to add that he respected people's opinions on the matter. Lopes' article did not draw definitive conclusions - indeed, it ended with an appeal for HCB to make all its data public, so that everybody could analyse and draw their own conclusions. Probably this essentially technical article would have had a rather different response, had Renamo deputies not tried to score political points with it. (AIM)

 

 

entretanto, em entrevista à STV (março 9)

 

 o Ministro da Energia declarou que a gestão hidrológica da HCB foi muito bem feita e que só assim se evitou que “a barragem caísse.” O Ministro reiterou ainda que a HCB deve ser explorada nos seus níveis mais altos dado que só assim se podem assegurar elevados fluxos de receitas.  

 

E segundo o Notícias (Março 10):

 

As descargas da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) foram feitas de forma gradual e responsável, não sendo, por isso, a causa das inundações que se verificaram a jusante do rio Zambeze. O Ministro da Energia, Salvador Namburete, que ainda ontem regressou da província de Tete, para onde se deslocara para acompanhar os projectos de electrificação, explicou que a HCB fez os encaixes que era possível fazer até ao limite da segurança da infra-estrutura, acima do qual a barragem poderia correr risco.

 

é surpreendente que nesta altura em que estamos na derradeira fase da transição da HCB para a gestão moçambicana comecem a ser levantadas questões que há 30 anos nunca tinham sido levantadas, pelo menos desta forma. Creio que são pessoas que querem mostrar que sabem mais do que nós sobre o empreendimento. Mas nós temos o mandato do povo e vamos trabalhar para que a barragem sirva o objectivo para o qual foi construída”, disse Salvador Namburete.

 

Foi a primeira vez que o Governo moçambicano se posicionou, desde que o artigo de opinião da autoria de um cidadão de nome José Lopes foi posto a circular na Internet e reproduzido por algumas publicações da praça. NOTICIAS - Maputo, Março 10, 2007

 

Elísio Macamo said ...

 

    caro egídio, este artigo de opinião é interessante. o argumento parece-me plausível e devia preocupar a quem de direito. o que acho mesmo muito interessante neste artigo é a qualidade da interpelação, algo que, infelizmente, ainda faz muita falta na nossa esfera pública. li ontem, no blogue do patrício langa, uma crítica muito bem fundada à destruição da universidade pedagógica. não se falou de corrupção, não se falou da arrogância do poder, não se falou de nada dessas coisas que não nos ajudam a ir para a frente. Fez-se, tal como neste artigo de josé lopes, uma interpelação criteriosa da realidade. gostaria de o encorajar a si a continuar a dar espaço a este tipo de abordagem, pois só assim é que poderemos criar uma esfera pública responsável. é evidente que com este tipo de interpelação, a nossa classe política não pode ficar apenas pela análise do trabalho do ingc ou da reacção da comunidade internacional. terá também que analisar a responsabilidade do estado perante a sociedade. a actividade económica é importante, mas há sempre quem perde. a política consiste em negociar e conciliar os interesses dos que ganham e dos que perdem. o desafio, no caso das cheias do zambeze, consiste em reforçar a população no seu direito à segurança perante o estado e, por via dele, perante o investimento económico.

 

webpage em trabalhos

xitizap # 31

Mutarara flash

hidrodinâmicas no Zambeze

um cluster em Mogovolas

Aussie Rules

soltas

 

 

14 de Março - Dia internacional de Acçao para os Rios,  Agua e a Vida

Mito ou realidade: Será que as Barragens nos protegem das cheias?

 

O Vale do Zambeze está mais uma vez debaixo de água, com cheias. Comunidades inteiras perderam as suas colheitas, as suas casas, e estão a viver em condições extremamente difíceis apesar do esforço, trabalho e dedicação de algumas das nossas Agências Governamentais, como o INGC.

No meio desta crise, somos surpreendidos por uma declaração do nosso Ministro da Energia: “Moçambique planeia construir Barragens para evitar mais inundações no Rio Zambeze como as que têm devastado o país nas últimas semanas”. À Afrolnews reportou: "Quanto mais Barragens tiver o Governo, menor será o risco no futuro. A primeira Barragem a ser construída será a Barragem de Mphanda Nkuwa, situada 70 quilómetros rio abaixo da Barragem de Cahora Bassa na provincial de Tete, de acordo com o Ministro da Energia Salvador Namburete." 

 

Será que a construção de mais Barragens no Rio Zambeze é a solução? Há provas cientificas de tal declaração?

A História não apoia tal declaração, e até mostra que as Barragens são uma má resposta ao problema crescente das cheias por várias razões:

Controles estruturais, como as Barragens e os diques podem ajudar a mitigar os impactos de cheias anuais “normais”, mas podem também agravar a situação de cheias graves. Em conjunto com isto é o facto de as cheias graves poderem aumentar com a mudança climática, o que se pensa estar a aumentar a variedade, a intensidade e a frequência de tempestades. As nossas Barragens já existentes não foram desenhadas para aguentar as grandes oscilações no caudal que a mudança climática poderá trazer. Uma albufeira com capacidade suficiente pode ajudar a aliviar as cheias rio abaixo, armazenando uma parte ou todo o excesso de água depois de grandes chuvas. Mas as grandes Barragens do Zambeze são projectos de múltiplos fins, onde a pressão política e económica fazem com que a albufeira esteja frequentemente cheia para maximizar a geração de electricidade e o fornecimento de água. Nestes projectos de múltiplos fins, estas duas funções geradoras de dinheiro têm prioridade sobre manter a albufeira vazia para deixar espaço para as cheias. Mundialmente, há vários casos onde as cheias pioraram porque os funcionários da Barragem guardaram água enquanto a albufeira estava a encher, e depois, ao continuar a chuva tiveram que abrir as comportas em condições de emergência para evitar que a Barragem enchesse de mais.

Porém, provavelmente o principal factor por detrás das grandes perdas nas cheias do mundo inteiro é que as Barragens e os diques trazem uma falsa sensação de segurança. Deliberadamente ou não, as pessoas são encorajadas a assentarem-se nas planícies aluviais, fazendo com que as futuras cheias sejam bastante mais sérias do que se não se tivesse feito nenhuma construção e as planícies não tivessem sido alteradas. Para além disso, a crescente perda de capacidade de armazenamento de sedimentos reduz a capacidade das Barragens de captarem as águas das cheias, com o resultado de a cada ano que passa o risco para os novos habitantes da planície aluvial aumenta.

Um problema relacionado é que a desflorestação, degradação e urbanização na linha da água aumentam a velocidade com que a água corre para os rios.

 

Com estes factores em mente, vamos voltar ao Vale do Zambeze:

O Zambeze habitualmente enche duas vezes em cada época chuvosa – um ciclo que foi interrompido pelas Barragens. Os engenheiros tentam guardar grandes quantidades de água nas barragens, o que significa uma maior produção de energia durante a época seca. Quando as primeiras chuvas atingem o Zambeze (normalmente em Dezembro), as Barragens guardam a água para restabelecer os níveis da Barragem. Assim, as Barragens já estão demasiado cheias para absorver a cheia maior em Fevereiro.

A situação pode piorar. Bryan Davies, um ecologista fluvial e um perito no Zambeze, da Universidade de Cape Town, descreveu em 2001 o rio Zambeze como uma “bomba-relógio climática e ecológica”. Duas grandes Barragens – a Kariba na Zâmbia e a Cahora Bassa em Moçambique – estão conjuntamente num acto alarmante de regulação do rio, um sistema que anda várias vezes na linha de uma catástrofe. Nesta altura da história, podemos verdadeiramente dizer que as cheias estão sob control do Homem, não só da Natureza.

Históricamente, grandes cheias afectavam regularmente o baixo Zambeze, mas as Barragens alteraram tanto o regime hidrográfico que mudaram os padrões de assentamento. As actuais cheias pouco frequentes e altamente reguladas na bacia criaram uma falsa sensação de segurança para as populações a viver rio abaixo. Antes da construção da Barragem, elas migravam anualmente para a planície aluvial para cultivar, e depois voltavam para cima para estarem seguros quando as chuvas viessem. Recentemente, a pouca oscilação do caudal do rio força as populações a cultivarem na zona das cheias. As terras antes produtivas agora são marginalizadas sem os sedimentos antes regularmente trazidos com as inundações. Já não há abundância de peixes “As pessoas mudaram-se para a planície aluvial para se alimentarem”, diz o Davies. Estes novos padrões de assentamento implicam centenas de pessoas estarem literalmente na linha do perigo quando as cheias graves inevitavelmente sobrecarregarem as Barragens rio acima.

 

A teoria das Barragens-como-controladoras-de-cheias é particularmente arriscada tendo em conta as “super tempestades” previstas como resultado das mudanças climáticas. As Barragens existentes não tem um desenho (ou um funcionamento) preparado para as mudanças climáticas, e a Mphanda Nkuwa, neste momento, não está desenhada de forma a resolver este problema. Espera-se que seja um projecto “run of river”, o que quer dizer uma pequena albufeira. O seu objectivo principal será produção de energia, fazendo com que seja ainda menos provável que sirva como mitigadora das cheias.

No caso das cheias deste ano, o Governo afirma ter se começado a preparar para as cheias em Outubro do ano passado. Se isto é verdade, então porque estava o nível de água na Cahora Bassa tão alto em Dezembro? Porque não libertaram água, por saber que se aproximava uma época de grandes chuvas?

        

Continuam a haver muitas perguntas por responder em relação à gestão da Cahora Bassa nesta época e nos últimos 30 anos. Acreditamos estar na altura de termos estas perguntas respondidas públicamente, recorrendo a peritos imparciais de hidrologia, ecologia fluvial, e gestão de barragens. Pedimos que seja feita uma investigação com vista a determinar se a gestão da Cahora Bassa está a contribuir para o agravamento destas cheias, ou se nos está a proteger de algo ainda pior, como tem-nos sido dito várias vezes. Está na altura de pedir os registos da Barragem, para que estas perguntas sejam respondidas de uma vez por todas.

 

Para evitar futuras catástrofes, a Cahora Bassa deve ser gerida de uma nova maneira, uma que respeite a necessidade natural do curso da água. É preciso um plano detalhado para restaurar as planícies aluviais, libertando a água das Barragens de forma mais natural, e instituir a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos para a bacia do Zambeze, antes de pensarmos em construir mais alguma Barragem.

 

JA! Justiça Ambiental

Contacto: Tel: + 258 21 496668, Cel: 82 3106010, E-mail:  ja@uninet.co.mz

 

  versões em PDF          em English

                            

em Português

 

excertos do despacho Associated Press (AP - Feb 9) aquando da visita da Primeira-Ministra Luísa Diogo às zonas afectadas pelas recentes cheias no Zambeze:

 

Africa floods kill 100, threaten thousands

Up to 285,000 will need food aid in Mozambique, U.N. estimates

 

The Associated Press, Feb 9, 2007

 

MAPUTO, Mozambique - Walls of water forced through floodgates at Mozambique's mighty Cahora Bassa dam are worsening floods that have killed dozens of people, swept away hundreds of homes and threaten hundreds of thousands of people, Prime Minister Luisa Diogo warned Friday.

 

The U.N. World Food Program on Friday said it would call for international help, estimating that 37,000 acres of crops have already been lost in Mozambique and that up to 285,000 people will need food aid. "The outflow of the Cahora Bassa Dam is likely to worsen flooding in the Zambezi River basin to levels not seen since the catastrophic floods in Mozambique of 2000 and 2001," the program's southern Africa director, Amir Abdulla, said in a statement.

 

Raging waters in the Zambezi River are expected to rise with a large flood wave traveling down from the Cahora Bassa hydroelectric dam in northwest Mozambique. On Wednesday (Feb 7), authorities doubled the discharge from its floodgates to nearly 10,000 cubic meters a second, even amid fears of the danger to people along river banks, Diogo said.

 

She said the lower Zambezi Valley is threatened by swollen tributaries of the Zambezi as well as the walls of water descending from the Cahora Bassa.