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Cahora-Bassa e Kyoto
por desígnios só ao alcance dos deuses, as coincidências numéricas insistem em cruzar as negociações HCB (Hidroeléctrica de Cahora-Bassa).
Há tempos (Março 2004), os números apregoados quanto a uma suposta dívida HCB a Portugal (1.8 biliões EURos) expunham uma intrigante proximidade com outros que, exactamente na mesma altura, cruzavam a contabilidade pós-colonial portuguesa: uma velha dívida de Angola (1.3 biliões EURos), e 1.7 biliões EUROS em subsídios aos “ex-combatentes do ultramar PP” – e ultramar PP porque, para o PP que o pariu, esse subsídio deveria restringir-se aos ex-militares do que é hoje Portugal.
Entretanto note-se que, para além de vizinhança numérica, todos estes valores resultam de guerras: coloniais e/ou pós-coloniais. E partilham ainda de uma outra característica: as ex-colónias são a origem dos fundos (check HCB e outras dívidas, em xitizap # 12).
curiosamente, em Outubro 2005, e novamente no momento em que decorrem rondas negociais HCB, uma outra coincidência numérica volta a pairar sobre Cahora-Bassa. Mas desta vez ela parece fluir ao contrário.
Refiro-me aos 1.5 a 2 biliões de EUROS que, entre 2008 e 2012, Portugal poderá vir a ter que pagar devido a negligências na redução de Gases de Efeitos de Estufa.
na verdade, e segundo os dados recentemente publicados pela União Europeia, em 2010 Portugal deverá registar um nível de emissões de gases de estufa superior ao de 1990 em cerca de 53.1% - contra os 27% a que estava comprometido. E embora o impacto de algumas “externalidades” (incêndios e preços do crude oil) possa ter o seu peso, os peritos europeus não hesitam em considerar que a verdadeira causa desta derrapagem ambiental se deve a pura inacção – política, segundo muitos.
Com base nestes dados, e noutros que confirmam uma taxa média de crescimento de emissões em Portugal na ordem dos 3.5% ao ano, a organização ambientalista Quercus projectou dois cenários de evolução de emissões no período 2008-2012, e calculou as respectivas penalizações com base no valor indicativo de 20 EUR por tonelada de dióxido de carbono equivalente.
assim, e ao abrigo do Protocolo de Kyoto e da respectiva Directiva Europeia, a Quercus prevê que Portugal poderá incorrer em custos de penalização na ordem de 1.5 biliões EUR (cenário baixo) ou 2 biliões EUR (cenário alto) no período 2008/12.
E isto é uma pipa de massa que tem que ser bem aplicada - e seguramente no quadro das directivas e protocolos ratificados por Portugal e União Europeia; e por Moçambique também.
Por outro lado, e de novo por mera coincidência, estas penalizações (1.5 ou 2 biliões EUR) igualam, ou superam, o valor que Portugal insiste em referir como sendo a dívida HCB a Portugal. Uma dívida que, excluindo os assets económicos, releva de um contrato politico-financeiro velho de 30 anos.
Um contrato feito em 1975 e que, naturalmente, tinha riscos para ambas as partes. E os riscos são para serem geridos - com mais ou menos elegância estratégica.
Cá por mim, ocorre-me que, caso em Outubro 2005 a política pequena continue a prevalecer sobre a Política Grande, talvez valha a pena transferir as negociações para Kyoto – e começar a gerir os respectivos mecanismos de compensação.
No mínimo porque Deus não joga aos dados – como dizia o outro que este ano vê comemorados 100 anos de relatividade.
josé lopes
outubro 2005 subindo o Zambeze
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outubro 2005 |
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xitizap # 21 outubro 2005 |

