xitizap # 20

Web em perigo?

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Web em perigo ?

 

o ataque dos MOBIs

 

tentava eu registar-me no novo domínio .mobi quando tropecei numa dúvida:

 

estará a Web em perigo?

 

É pelo menos o que sugere Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web, quando, a propósito da introdução deste novo domínio, ele enuncia uma série de grandes riscos para a universalidade da Web - e sua arquitectura de links.

 

 

Recorde-se que o novo domínio .mobi foi recentemente aprovado pela ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers), e prevê-se que os primeiros registos comecem a ser aceites em meados de 2006 - após um período dito de nascer do sol exclusivamente destinado a proteger as grandes marcas – uma táctica que visa contornar as usuais especulações predatórias em torno dos nomes mais sonantes.

 

 

Estranhamente, a aprovação ICANN não tomou em consideração as opiniões de Tim Berners-Lee expressas no seu documento “New Top Level Domains considered Harmful”. Um paper que havia merecido o suporte por parte do W3C Technical Architecture.

 

E, à primeira vista, tudo indica que a ICANN não conseguiu resistir às pressões da Mobile Web Initiative - uma poderosa joint-venture de operadores telefónicos e fabricantes de aparelhos móveis que inclui, (guess !): Microsoft, Nokia, Vodafone, 3, GSM Association, HP, Orange, Samsung, Sun, TIM, T-Mobile International, e Ericsson.

 

Para o giga-empório MOBI a racional da Mobile Web Initiative parece simples: é necessário diferenciar a Web segundo o tipo de acesso.

 

Uma racional que parece simples, e modernista.

Mas, na Web, tal como na vida, nem tudo o que parece é.

 

Desde logo porque a iniciativa parece derivar de uma fundamental fraqueza do Golias MOBI: a limitação dos equipamentos que controla. Em termos de ecrã, memória e largura de banda por exemplo.

 

Por outro lado, porque nada do que os MOBIs querem fazer é impossível na actual Web – à excepção do controle de fluxos de informação.

 

Um pequeno senão—mas que faz uma diferença tão grande que os levou à  “invenção” de um novo conceito de marketing: o utilizador móvel.

 

Note-se que, para Sir Timothy John “Tim” Berners-Lee e demais biliões de utilizadores WEB

 

por design, a raiz do sistema de nomes de domínios é um recurso público único. E o seu controle deve ser feito para e, indirectamente, pelas pessoas como um todo. Abandonar esta enorme fatia a um grupo privado será, em termos simples, uma traição à confiança pública depositada na ICANN.”

 

Entretanto, segundo a Mobile Web Initiative, a comunidade-alvo deste novo Top Level Domain  . MOBI é constituída por:

 

(i) consumidores individuais e de negócio de aparelhos, serviços e aplicações MÓVEIS; (i) fornecedores de conteúdo e serviço MÓVEL; (iii) operadores MÓVEIS; (iv) fabricantes e vendedores de aparelhos MÓVEIS; (v) vendedores de software e tecnologia IT que servem a comunidade MÓVEL.

 

Ora, como observa Tim Berners-Lee,

 

de facto, isto é uma mistura de razões; … e parece até haver um desejo de limitar o “.mobi” a companhias – talvez as do grupo.

 

Mais ainda. Segundo ele, “este domínio .mobi terá um efeito drasticamente prejudicial na Web.

 

Ao dividir-se o espaço de informação HTTP em:

 

(i) partes desenhadas para acesso a partir de tecnologias ditas móveis  e (ii) partes desenhadas (presumivelmente) para acessos que não desse tipo, destrói-se uma propriedade essencial da Web – a sua universalidade”.

 

O que é exactamente uma das raízes do seu sucesso.

 

Quanto à (in)dependência de equipamentos,

 

Tim Berners-Lee recorda que ”a Web deve operar independentemente do hardware, do software, da rede usada para a aceder, da perceptível qualidade ou adequação da informação nela existente, e da cultura e linguagem - e das capacidades físicas dos que a ela acedem.

 

A independência, em particular em termos de hardware e rede, tem sido crucial para o crescimento da Web. No passado, a independência da rede era largamente assegurada pela arquitectura da Internet. A Internet liga todos os aparelhos sem que se tome em consideração o tipo ou tamanho ou a largura de banda – nem sequer é relevante a natureza wireless, ou wired, ou óptica, da infra-estrutura em uso.

 

E esta é a sua grande força.

 

Desde a sua criação que a Web se constrói sob esta arquitectura - e com independência relativamente ao equipamento de interface com os utilizadores.

 

Ao separar conteúdos de informações,

seja qual for a proposta de grafismo digital,

 

(tal como possível, por exemplo, via combinações HTML com CSS, XML com XSL e CSS, etc.)

 

a actual Web permite que uma mesma informação seja vista a partir de toda a espécie de tamanhos de ecrãs, profundidade de cores, etc.

 

Durante algum tempo, muitos dos designers de sites Web não reconheceram a necessidade desse tipo de independência a nível de equipamentos, e indicavam que os seus sites eram “melhor vistos usando ecrãs 800x600”. Hoje, tais Web sites parecem horríveis num telefone ou em ecrãs maiores.

Em contraste, muitos dos sites Web que apropriadamente utilizam style sheets podem ser muito bem visualizados numa larga gama de tamanhos de visores.

 

Apesar de à luz da actual tecnologia o termo MÓVEL poder, em muitas mentes, equivaler a qualquer coisa como um telefone celular, é ingénuo – e pessimista – imaginar que este específico tipo de aparelho venha a ser a combinação que persistirá por qualquer que seja o período de tempo. Com os avanços da tecnologia, conceitos como “Network PC” e “Multimédia PC”, que definiam perfis de capacidade de equipamentos, acabaram por ser varridos - e o mesmo acontecerá com qualquer tentativa para dividir equipamentos, utilizadores e conteúdo em dois grupos.

 

E, para que restem ainda mais dúvidas, Tim Berners-Lee refere que “existem muitas e boas maneiras de lidar com a crescente diversidade de equipamentos dos clientes – e dela derivar o maior benefício. A adaptação poderá surgir do lado do cliente, do lado do servidor, ou de ambos. Por exemplo as especificações CC/PP fornecem um enquadramento para que um aparelho-cliente descreva as suas capacidades a um servidor – e em grande detalhe. Em parte, isto baseia-se nas especificações UAPROF (User Agent Profile) desenvolvidas pela indústria do telefone móvel.

 

Da mesma forma, a especificação HTTP dispõe de um mecanismo de negociação de conteúdos que permite aos aparelhos fornecerem um perfil simples das suas capacidades – sempre que certa informação é solicitada. E mesmo no caso de um servidor oferecer o mesmo conteúdo estático a sistemas móveis e fixos, as Cascading Style Sheets (CSS) permitem que específicas informações sobre o estilo sejam aplicadas apenas por clientes portáteis – o que permite que apresentações bastante diferentes sejam mostradas nos dois casos. Estes sistemas, que são apenas alguns dos que já existem tecnologicamente, são muito mais potentes que (a introdução de) qualquer novo nome de domínio a nível superior – para não falar dos sistemas que ainda poderão vir a ser desenhados.”

 

Entretanto, o memorandum continua:

Os vários documentos sobre o .mobi como um Top Level domain falam não apenas sobre aparelhos móveis mas também de “utilizadores móveis” e “mobile business”.

E há mesmo indicações sugerindo que os fornecedores de tecnologia móvel acham que, pelo facto de se estar móvel, ou “a trabalhar” um cliente em mobilidade, se é especial ou diferente.

Na verdade, isto poderá ser motivado pela simples tentação de aumentar a visibilidade do nome do fornecedor de comunicações móveis. E pode estar ligado à esperança dos fornecedores de comunicações em ganhar algum controle sobre o fluxo de informação de/para os utilizadores móveis.

 

O que será prejudicial à abertura de mercados potenciada pela Internet.

 

Mas a questão não reside no facto de ser fútil uma divisão entre o giga - MOBI e o “imóbil” resto da Internet – a questão é que essa divisão causa estragos.

 

Porque, como espaço de informação, a Web trabalha via referencias. E ela define-se pela relação entre um URI e o que se obtém quando se usa esse URI. Um URI - Uniform Resource Identifier -  é passado, escrito, falado. Ou enterrado em links, marcado, trocado via e-mail e Instant Messages. E as pessoas procuram URIs em toda a espécie de condições.

 

É fundamentalmente útil que se seja capaz de citar um URI para efeitos de certa informação e procurá-lo num contexto inteiramente diferente – móbil ou não.

 

Tim Berners-Lee termina o seu memorandum de Abril 2004, urgindo à ICANN a não aprovação do novo domínio .MOBI.

 

Porque, “ao dividir-se a Web em informação destinada a diferentes equipamentos, ou diferentes classes de utilizadores, ou diferentes classes de informação, quebra-se a Web de um modo fundamental.”

 

 

leia o artigo de Tim Berners-Lee na íntegra

 

“New Top Level Domains considered Harmful”

 

 

josé lopes

 

agosto 2005

em Mogovolas, Moçambique

 

Tim Berners-Lee

 

 

Inventar a World Wide Web não o tornou imediatamente rico, ou sequer famoso.

 

Em parte porque a Web surgiu a partir de tecnologias relativamente humildes. A invenção de Tim Berners-Lee baseou-se num programa de recolha de informação chamado Enquire que ele escreveu em 1980 quando trabalhava para o CERN.

 

Em parte também porque ele fez o inimaginável quando, mais de uma década depois, ao concluir a programação das ferramentas que definiam a estrutura básica da Web, ele decidiu colocá-las ao dispor de toda a comunidade técnica — grátis, e sem quaisquer condições.

 

Enquanto outros viriam a fazer milhões a partir da sua invenção, Tim Berners-Lee avançou para a fundação do World Wide Web Consortium (W3C) no MIT com o objectivo de promover o desenvolvimento da WEB e seus standards globais.

 

Entre outros projectos, Tim Berners-Lee dedica-se actualmente ao desenvolvimento da sua segunda grande ideia: a Web semântica. Um projecto que visa criar um medium universal para troca de informação por atribuição de significados ao conteúdo de documentos na Web - de um modo perceptível a equipamentos.

 

 

 

extraído de TechnologyReview.com

 

xitizap # 20      agosto 2005

o primeiro site da Web

 

colocado online por Berners-Lee

em Agosto 6, 1991