xitizap # 18

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mozal, matola e kyoto

 

uma grande golpada

 

para além de alumínio, a Mozal passou a apostar fortemente em anedotas.

 

Há seis meses a Mozal divertia-se com chuvas ácidas na reunião de Partes Interessadas e Afectadas (28 Outubro 2004). Há dias (5 de Abril 2005) esta alumineira da BHP Billiton abria a sua reunião pública com uma anedota sobre tomates e testículos.

 

E perante um repleto anfiteatro a Mozal contava assim:

 

nas margens do Rio Matola um surdo chega a uma tasca e tenta explicar-se por gestos – bate na barriga, badala um braço, e com a outra mão agarra os testículos.

à  primeira ninguém o entende, pelo que o surdo volta a repetir os gestos – e agora com mais enfâse gráfico.

 

Até que finalmente aparece alguém que o traduz: Eh pá, malta !

O surdo bate na barriga para dizer que tem fome, badala o braço para dizer que quer peixe fresco da cana, e agarra os testículos para dizer que quer salada de tomate.

 

Conforme posterior explicação, esta graçola vinha a propósito de várias pessoas que desde há várias semanas acusavam a Mozal por estranhas coisas que estariam a acontecer nas suas zonas da Matola – aos peixes do rio, à agricultura local e mesmo à pele de algumas pessoas.

 

Confesso que achei alguma piada à anedota.

Não tanto pela grafia dos gestos, mas mais pela perplexidade que eu via atravessar os oblíquos olhos de uma vasta delegação diplomática.

E quando reparei que os distintos chineses freneticamente fotografavam o teatro dos tomates Billiton-Mozal, comecei a rir-me para dentro quando me ocorreu que, se calhar, a delegação julgava estar a registar o mais recente exotismo da BHP Billiton – agarrar os testículos à entrada das reuniões Mozal.

 

Dos tomates, a Mozal passou directamente ao seu velho folheto de marketing – a maior eficiencia tecnológica, a melhor qualidade ambiental, o maior impacto socio-económico, o mais largo apoio comunitário – e ZERO HARM.

 

Embalado por infindáveis virtudes e glórias alumineiras, o Director Geral da Mozal não resistia mesmo em apontar-nos os caminhos do Céu. E perante um estupefacto auditório ele passava a citar a Bíblia - a propósito das violentas arruaças entre fariseus e Jesus Cristo.

 

Para este pastor do alumínio, a Mozal seria um Cristo industrial.

Sendo que os fariseus seriam os jornalistas que insistiam em reportar as mais recentes reclamações populares contra a alumineira – uma blasfémia que o irritava sobremaneira.

Porque, afinal, ele parecia pregar em vão.

Não aos peixes, porque sobre estes já havia existenciais dúvidas, mas aos jornalistas a quem ele copiosamente ttransmitia a Verdade segundo o Testamento Mozal.

 

E para que todos pudessem finalmente constatar que, tal como Cristo, a Mozal também sabia fazer milagres, eis que, inesperadamente, o Director Geral transferia a reunião pública para o novo Templo do Alumínio - em Beluluane, a kilometros do auditório para onde havia sido convocada a reunião. Para o efeito, vários autocarros de luxo aguardavam já os putativos discípulos.

 

Radiante, a Mozal tinha ainda tempo para contar uma outra graçola. Agora a propósito de febres aftosas contraídas por um ex-ministro durante uma visita à alumineira. Segundo a Mozal, quando o novo dirigente do país soube disso de imediato ordenou o abate de toda a manada – ou seja todo o anterior conselho de ministros. Em nome da luta contra o “deixa-andar”.

Mas esta, confesso que não a captei.

 

Entretanto, e embora fossem vários os assuntos a debater com a Mozal, às 9:50 (AM) decidi abandonar a reunião – e recusar a extemporânea visita ao Templo do Alumínio, em Beluluane.

 

Só ir e vir eram mais de três horas e, pelo tipo de neo-jornalismo que perfurmava o auditório, era mais que previsível que a Mozal não queria discutir nada em público. Em Beluluane – chez eux -  o que a Mozal queria era esmagar uns poucos de matolenses que, mal ou bem, haviam ousado pisar os calos do mega-projecto.

 

E quanto a tomates para discutir várias outras questões Mozal, não vi !

Nesta não-reunião pública apenas vi escapismo do mais baixo ventre.

 

josé lopes

 

Abril 5, 2005

à saída do auditório TDM – e muito chateado

 

 

 

em Moçambique, o Protocolo de Kyoto entra hoje em vigor (18 abril 2005).

 

xitizap alia-se à celebração e publica este suplemento dedicado a Alterações Climáticas.

 

E que Zeus nos proteja!

xitizap # 18

abril 18, 2005

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os media fariseus
e o Templo de Alumínio